Esta é a Parte 1 de uma série de 7 posts sobre o assunto.
- Parte 2 - Apenas um
- Parte 3 - O que poderia ter acontecido?
- Parte 4 - Um experimento chamado Kyle Boller
Por Brian Billick, NFL Network
16 de abril de 2012
O
ganhador do Oscar e roteirista William Goldman costuma dizer que há uma
importante regra que você nunca deve esquecer para conseguir entender
como as coisas funcionam em Hollywood: "ninguém sabe nada".
Quando
se trata de futebol americano, esta mesma frase se aplica ao complexo e
tortuoso exercício de decidir quem consegue e quem não consegue jogar
como quarterback na NFL. Certamente há algo de artístico nisso (mesmo
porque todas as tentativas científicas não deram certo).
No
final da década de 60, início da era do Super Bowl, sempre que os times
draftavam quarterbacks entre as 10 primeiras escolhas do draft
(justamente onde espera-se que todos tornem-se excelentes jogadores), as
franquias tinham sucesso em apenas 50% dos casos. De forma geral, na
primeira rodada de escolhas - onde você espera obter pelo menos um
jogador de qualidade que seja titular pelos próximos anos - a média foi
idêntica: apenas 50% de sucesso. Às vezes os times acertavam (como
quando o Pittsburgh Steelers escolheu Terry Bradshaw com a primeira
escolha no draft de 1970) e às vezes erravam (como quando o Chargers
escolheu Marty Domres com a nona escolha do draft de 1969). Há também ocasiões em que os
times fazem escolhas que, se analisarmos o retrospecto, parecem
coerentes. Em 1967, com a terceira escolha do draft, o San Francisco
49ers escolheu Steve Spurrier, da Flórida, vencedor do Heisman Trophy no
ano anterior. Na escolha seguinte, o Miami Dolphins selecionou Bob
Griese, que simplesmente viria a entrar no hall da fama.
Hoje,
mesmo depois de várias décadas de experiência com o draft, um melhor
entendimento de todas as qualidades necessárias para se obter sucesso na
NFL e com milhões de dólares gastos com olheiros e avaliação de
talentos pelo país afora, os times ainda acertam em apenas 50% dos
casos na tentativa de identificar futuros quarterbacks de talento nas
primeiras 10 escolhas do draft, e o mesmo ocorrendo no restante da primeira rodada
do draft. Eis duas das razões para isso:
1.
Quarterback é a posição mais difícil de jogar entre todos os esportes
coletivos no mundo. Não existe outra posição - arremessador no baseball,
goleiro no futebol ou armador no basquete - que exija uma mistura de
habilidade atlética, inteligência, concentração mental e ainda um "algo a
mais" que Hemingway certa vez descreveu como "grace under pressure" -
seria algo como manter a calma e a frieza nos momentos mais difíceis.
2.
É a posição mais difícil de avaliar e projetar entre todos os esportes
profissionais no mundo. Os times da NFL, mesmo munidos de três ou quatro
anos de gravações de jogos, centenas de páginas de avaliação por
profissionais, dezenas de horas de trabalhos físicos e técnicos ao vivo
no Combine,
trabalhos individuais reservados, além de várias entrevistas pessoais,
ainda assim erram de forma rotineira na escolha do quarterback.
Desde
1998, 17 quarterbacks foram selecionados na primeira, segunda ou
terceira escolha do draft. Certamente há nomes especiais nessa lista -
Peyton Manning, Eli Manning, Donovan McNabb. Há nomes promissores também
- Matt Ryan, Matthew Stafford, Cam Newton. Mas também estão nesta lista
nomes como Ryan Leaf, Tim Couch, Akili Smith, David Carr, Joey
Harrington e JaMarcus Russell. O que esse último grupo de jogadores têm
em comum? Os treinadores que estavam no comando das equipes quando esses
atletas foram selecionados não estão mais empregados nos respectivos
times.
Encontrar
o quarterback da franquia, aquele líder que irá ocupar a posição mais
importante do time e que vai ser a cara da equipe durante vários anos,
seria equivalente a encontrar o Santo Graal no mundo do futebol
americano. A busca por esse atleta pode deslanchar uma carreira ou
acabar com ela. Encontre o quarterback certo, e tudo o que você fizer
parecerá sempre muito inteligente. Escolha o errado, e é melhor você
começar a atualizar o seu currículo. A cansativa e extensa busca pelo
quarterback certo - juntamente com o medo de perdê-lo - vai se tornando
uma neurose na cabeça dos dirigentes das equipes, confundindo e
prejudicando o raciocínio até das mentes mais brilhantes no assunto.
De 1999 a 2011, 39 quarterbacks foram escolhidos na primeira rodada do draft, mas apenas 16 na segunda rodada.
Pense
nisso: a distribuição destas escolhas, de uma rodada para outra,
deveria ser proporcional. Mesmo que os times tendam a valorizar
quarterbacks, eles deveriam aplicar esse raciocínio ao longo de todo
draft. Mas não é o que acontece. No draft, os times tem a preocupação
de não deixar passar um possível quarterback de franquia na mesma
intensidade com que se preocupam em não escolher um jogador que se torne
um fracasso.
Para
as demais posições, há vários outros atributos tangíveis que se pode
avaliar: por exemplo, o wide-receiver X tem velocidade e habilidade tais
que é coerente escolhê-lo na primeira rodada, enquanto o wide-receiver Y
não é rápido o suficiente para justificar ser escolhido na primeira
rodada. Mas com quarterbacks, a coisa é diferente. Muitos elementos são
intangíveis, ou então muito difíceis de se fazer uma projeção.
Considerando isso, e também pelo fato da pressão que muitos dirigentes
das equipes sofrem para escolher o quarterback certo, resulta em
que, se determinado atleta atende a alguns pré-requisitos básicos
(altura, bom porte físico e braço forte), ele tende a ser escolhido na
primeira rodada do draft, ainda que hajam dúvidas com relação a outras
características (precisão no passe, postura profissional no dia-a-dia,
liderança, etc) que poderiam fazer com que os times ficassem com receio.
Em
2008, tendo em mãos a primeira escolha do draft, o Miami Dolphins
deixou de selecionar o quarterback Matt Ryan para selecionar o tackle
Jake Long. Long é um tackle excepcional mas, quatro anos depois dessa
escolha, o time teve quatro quarterbacks diferentes desde então, e ainda
está desesperado por um quarterback de franquia. Em 2005, o Minnesota
Vikings deixou passar Aaron Rodgers por duas vezes, selecionando nestas
ocasiões o wide-receiver Troy Williamson e o defensive-end Erasmus
James. Nenhum deles está mais na liga. E veja a situação do Minnesota e
de Miami: o Vikings preencheu a posição de quarterback no draft do ano
passado, selecionando Christian Ponder com a 12a escolha, enquanto o
Dolphins está pensando em fazer o mesmo no draft deste ano, escolhendo
Ryan Tannehill com 8a escolha*.
Necessidade
é um péssimo negociador, e um ainda pior avaliador de atletas. Mas
aquele frio na barriga pela possibilidade de selecionar alguém que possa
se tornar um astro também é imenso. Este é o motivo pelo qual o
Dolphins está preocupado se Tannehill ainda estará disponível na 8a
escolha, e ao mesmo tempo preocupado se ele de fato vale uma 8a escolha.
Outros times igualmente desesperados, como Seattle, podem também fazer
uma troca para selecioná-lo antes da equipe de Miami.
Esse é o motivo pelo qual os dirigentes das equipes não dormem muito bem em abril.
Brian
Billick é ex-técnico da NFL, e liderou o Baltimore Ravens ao título do
Super Bowl de 2000. Ele foi treinador do Ravens durante 9 temporadas
(1999-2007) depois de trabalhar no Minnesota Vikins como coordenador de
ataque (1994-98). Além de escrever para a NFL.com, Billick é analista no
NFL Network's Total Access e também em outros programas.
(*nota do tradutor: Ryan Tannehill foi selecionado pelo Miami Dolphins na 8ª escolha do draft)
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- Tradução livre de Marcos Koji Onodera
Conteúdo original em:
http://www.nfl.com/draft/story/09000d5d82857fcc/article/how-to-draft-a-qb-part-1-nobody-knows-anything
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